Tag Archives Afeganistão

Meu lado moralista lamenta a decisão de Biden de arrancarem os EUA do atoleiro afegão antes de 11 de setembro, vigésimo aniversário dos atentados que enfiaram o país e a Otan para dentro deste atoleiro. Meu lado realpolitik entende a decisão. Biden é o quarto presidente americano que amarga a mais longa guerra da história americana. Sim, o Afeganistão, o cemitério dos impérios e também o dos seus cidadãos. Os EUA partem e o Talibã fica.

Política e diplomacia exigem pragmatismo e contorcionismos morais. No entanto, Trump sendo Trump, ele carece de bússola moral na sua mística “arte of deal”. No sábado à noite, ele tuitou que estava cancelando a vinda de líderes do Talibã e do presidente afegão Ashraf Gani a Camp David para um encontro secreto, como parte das negociações para a retirada das tropas americanas do país. O pretexto foi o “choque” do tuiteiro-em-chefe com mais um gesto de barbárie do Talibã, um ataque suicida em Cabul na quinta-feira, que provocou a morte de 12 pessoas, entre elas um soldado americano. Really? Alguns fatos: a população americana quer se livrar do problema afegão após 18 anos; Trump tem o pulso do país nesta […]

Coerência não é o nome do jogo na política externa do governo Trump. Ele está se lixando para direitos humanos, mas selecionou a ditadura Maduro como alvo de sua indignação e por ora age de forma correta, calibrando o endurecimento do jogo sem descambar para a loucura. No entanto, nunca se sabe. O assessor de segurança nacional de Trump, John Bolton, em épocas passadas (no governo de George W. Bush) queria invadir e bombardear até Marte. Hoje, precisa conter o seu pendor. Trump sonha em cair fora de buracos quentes, abandonando situações complicadas e compromissos de uma superpotência com aliados. No caso afegão, avançam as negociações entre os EUA e o Talibã. Para a Casa Branca, desde que o Talibã […]

Entretido no circo trumpete e absorto nas encruzilhadas nucleares (Irã e Coreia do Norte), eu deixe de comentar esta semana uma tragédia perto de mim no distante Afeganistão: o maior número de jornalistas mortos em um dia naquele buraco quente desde 2001. Aconteceu na segunda-feira em Kabul, em um duplo atentado suicida assumido pelo Estado Islâmico. Entre dezenas de mortos, nove jornalistas, a destacar o fotógrafo Shah Marai, da agência France Presse. Lendário e corajoso, ele não deixou de trabalhar sequer nos tempos em que o Talibã esteve no poder. Fotógrafo propenso à cegueira, com seu trabalho Marai sustentava uma imensa família, entre eles, três irmãos e dois filhos cegos. Os ossos do seu ofício são fotos como a que […]

Esta semana estou viajando nos meus comentários e inclusive evitando o círculo vicioso de falar em excesso do abominável homem laranja, Donald Trump, por suas travessuras domésticas. Já estive nos Himalaias para falar do risco de um conflito entre dois galos de briga, China e Índia, voltei ao Afeganistão velho de guerra, a mais longa na história americana, e hoje vou ficar naquelas paragens remotas e explosivas. Ok, perdão, mas preciso reincidir e falar a palavra Trump, pelo mero motivo de que esta semana ele anunciou sua nova estratégia no velho Afeganistão, basicamente voltando atrás na promessa eleitoral de cair fora do atoleiro. Trump fica por lá e, como os antecessores Barack Obama e George W. Bush, ele promete jogar […]

Donald Trump não assume responsabilidades ou erros. Assim, ele fez o que pôde para deixar nas mãos dos generais a decisão de estender por tempo ilimitado (sangue e dinheiro) o engajamento dos EUA no Afeganistão, a mais longa guerra na história americana. Ela vai completar 16 anos em outubro. O secretario de Defesa, James Mattis, não é idiota. Deixou claro que cabia a Trump formalizar publicamente a decisão. Afinal, a herança é dele. A guerra agora é de Trump, como foi de George W. Bush e de Barack Obama. Não me escandalizo com a confissão de Trump de que deixara para trás sua resistência a este engajamento. Mudara de posição. A vida de presidente é assim. Trump fez alguns floreios […]

As torres antes daquele dia – Foto Peter J. Eckel/ AP   Há exatamente cinco anos, 11 de setembro de 2010, eu inaugurei meu trabalho em VEJA.com. Data solene e triste, mas estou muito feliz com esta oportunidade. O tema da primeira coluna, obviamente, foi aquele 11 de setembro. A data foi sugestão de Eurípedes Alcântara, diretor de redação de VEJA (sim, chefe pode ter ótimas ideias). No ritual, republico a coluna inaugural. Leia ou releia. *** Eu fui atacado em 11 de setembro de 2001 pelos homicidas de Osama Bin Laden. E você também. Além de derrubar aquelas torres horrendas do World Trade Center, em Manhattan, e matar muita gente, a ideia era destruir uma babel de conceitos como […]

Já escrevi aqui que o acordo nuclear é uma grande vitória para o Irã. O acordo não desmantela totalmente este programa, levanta as sanções internacionais e depende da eficácia de inspeções também internacionais para não ser violado ao longo de 15 anos. O acordo também é uma vitória para o presidente Obama, cristalizada pelo sucesso esta semana do seu lobby para neutralizar a ofensiva do Congresso de maioria republicana com apoio de alguns democratas para detonar o que foi acertado em penosas negociações internacionais. Para Obama, é vital terminar seu mandato em janeiro de 2017 sem que o Irã tenha uma bomba atômica. O projeto do presidente é acomodar o Irã no Oriente Médio em busca de um equilíbrio estratégico […]

Angelo Costa, um leitor respeitado por todos na coluna (e isto é difícil aqui, hehehe) observou que eu estou em cima do muro neste acordo nuclear com o Irã. Correto e posso acrescentar que estou agnóstico e resignado. É o que é. O tom de resignação está patente nas reflexões iniciais sobre o acordo de Jeffrey Goldberg, meu guru para estas questões de Oriente Médio. Goldberg é cadeira cativa na coluna. Eu até já brinquei que nos dois juntos temos nome de firma de contabilidade em Nova York (Goldberg & Blinder). E quando ele faz a contas, Goldberg estima que o regime teocrático que manda no Irã sai mais poderoso com este acordo. Nas palavras dele, “esta triste conclusão é […]

Há 200 anos (9 de junho de 1815), as potências europeias finalizaram nove meses de negociações e pariram um acordo (um concerto) para trazer estabilidade e equilíbrio de poder depois das guerras napoleônicas. Funcionou em linhas gerais até a Primeira Guerra Mundial, cem anos mais tarde, que trouxe ainda mais destruição. Uma figura-chave nas negociações e cérebro de conceitos como legitimidade das nações e balança de poder foi o príncipe austríaco Klemens Wenzel von Metternich. Agora, na terça-feira, após uma exaustiva maratona de 18 dias (os tempos são mais velozes), as potências mundiais e o Irã (que tem aiatolá, mas não Napoleão) finalizaram as negociações na mesma Viena, velha de guerra e de diplomacia, para um acordo nuclear e um projeto […]

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