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Em quatro anos de guerra civil síria, o açougueiro Bashar Assad fez o que pôde para trucidar a oposição moderada, facilitando a vida dos jihadistas ensandecidos, a destacar o Estado Islâmico. Vitória para maniqueístas e oportunistas como Vladimir Putin. Nosso homem em Moscou hoje cobra do mundo o posicionamento entre Assad e o terror; derrota para Barack Obama. O homem das nuances amarga um fiasco estratégico e humanitário na Síria. No jornal britânico The Daily Telegraph, Ruth Sherlock tem um relato ilustrativo sobre o clima de derrota em Washington e o fato de o governo Obama ter aceitado tacitamente as regras do jogo impostas por Moscou. Putin capitalizou a indecisão americana na Síria (Obama nunca se engajou com vigor no […]

Por uns momentos, na segunda-feira, na chatice que costuma ser a discurseira na abertura da assembleia geral da ONU (o Brasil tem a honra de iniciar todo ano a verborragia), imperava o clima de alta tensão da Guerra Fria. O presidente americano Barack Obama falou. Logo depois, foi a vez do presidente russo Vladimir Putin (que deu as caras na ONU depois de 10 anos). E mais tarde, os dois tiveram uma reunião bilateral. Para Obama, o “tirano” Bashar Assad deve sair do poder. Para Putin, o “presidente legítimo” da Síria deve ficar. Ele é parte de uma espécie de cruzada contra o terror do Estado Islâmico. Santo Putin. A Rússia de hoje nem de longe pode se comparar ao […]

Serão discursos e mais discursos na abertura de mais uma assembleia-geral da ONU nesta segunda-feira na babel de Nova York. Salvo alguma pedalada em dilmês (que significa a “disruptura” da língua portuguesa) sobre a necessidade de diálogo com os terroristas do Estado Islâmico, Dilma Rousseff, como quase qualquer um no pódio, falará alguma coisa humanamente sensata que o mundo não deve negligenciar os refugiados, especialmente os sírios. E em português claro, eu faço minhas as palavras do editorial corrente da revista The Economist: esta massa de refugiados do Oriente Médio rumo à Europa nos leva apenas a uma conclusão: não importa o que a Europa faça nas suas fronteiras, a crise não vai terminar até que pare a guerra civil […]

Claro que as cenas desesperadoras de refugiados nas portas da Europa e a barbárie YouTube do grupo terrorista Estado Islâmico não são uma distração, não são um sideshow. No entanto, não podemos perder o foco do principal motivo que impulsiona sírios a fugirem do seu país: é o tratamento dispensado pela ditadura de Bashar Assad à sua própria população (já são quatro milhões de sírios fora do país devido à guerra civil, que provocou 250 mil mortes desde 2011). O nosso homem em Moscou quer mobilizar a humanidade em cruzada contra o Estado Islâmico, tratando Assad como parte desta Santa Aliança. Isso, porém, sequer é um daqueles pactos com o diabo em momentos atrozes da história (como se aliar a […]

Diplomata de carreira e ex-embaixador dos EUA na Síria, Robert Ford anteviu a tragédia no país do Oriente Médio. Ainda em 2011, ele advertiu que a brutal repressão do regime Assad contra o desafio então pacífico de manifestantes levaria a uma escalada de violência dantesca. Para Robert Ford, quando Assad botou para quebrar, a solução era preparar a oposição síria para resistir (isto quando jhadistas da pesada não davam as cartas). Desiludido com a inação do governo Obama na guerra civil síria, Ford abandonou o serviço diplomático. Ele agora considera inevitável o que qualifica de “dura partilha” do país entre variações de grupos rebeldes e o que sobrou do regime Bashar Assad. Robert Ford não considera que a queda de Assad […]

Ucrânia e Síria são assuntos cativos na coluna. É uma honra para mim publicar no espaço sabático um texto do professor Timothy Garton Ash, que saiu na edição em português do jornal espanhol El País. Garton Ash é uma referência em assuntos europeus, especialmente Europa Oriental, mas aqui ele faz uma sombria conexão entre Ucrânia e Síria. *** Timothy Garton Ash “Nunca mais!”, gritaram os europeus depois da Primeira Guerra Mundial. E voltou a suceder. “Nunca mais!”, gritaram os europeus em 1945, e voltou a ocorrer. “Nunca mais”, gritaram os europeus depois da Bósnia, em 1995, e agora voltou a acontecer. Espero e duvido, em igual medida, que o acordo de cessar-fogo de Minsk, conseguido graças aos heroicos esforços de […]

Uma das manchetes internacionais nesta terça-feira é a entrevista que o ditador sírio Bashar Assad deu a Jeremy Bowen da BBC. (Aqui para quem quiser ver e aqui para quem quiser ler um relato no site em português da BBC). Bowen diz que Assad é um homem educado (um assassino educado?) e, com perguntas firmes e diretas, trata até com suavidade as barbaridades ditas pelo ditador sírio (é o pedágio pago para poder circular nas áreas governamentais). Meu drama nestas horas é: para que entrevistar um ditador como Assad? Ele vai usar o material como propaganda interna e externa (o veterano Bowen está ciente disso). São mais de 200 mil mortos em quatro anos de guerra civil e o ditador […]

O acirramento de tensões e confrontos era esperado entre Israel e a milícia terrorista libanesa Hezbollah (aliada do regime xiita de Teerã e da ditadura Assad na Síria) desde que os israelenses mataram um general iraniano e um comandante do Hezbollah em um ataque aéreo na Síria no último dia 18. Pois bem, nesta quarta-feira veio a retaliação. Em um ataque de artilharia, o Hezbollah matou dois soldados israelenses e feriu outros sete,que estavam em patrulha na área das colinas de Golã controlada por Israel. Não está claro se o ataque em uma tripla fronteira foi lançado do Líbano ou da Síria. Na espiral habitual, aconteceram as represálias israelenses e no ataque contra o sul do Líbano ocorreu a morte […]

Sei que a conversa sobre Oriente Médio e os descaminhos da Primavera Árabe é circular (na segunda-feira, aliás, publiquei coluna sobre o círculo egípcio). E no círculo do debate, existe o argumento de que, com a coisa tão horrenda nas bandas de Siraque (Síria + Iraque), o ditador Bashar Assad, no final das contas, é o mal menor diante da barbárie que é o terror do Estado Islâmico ou o mero cenário de distopia na guerra civil. Para quem se consola com a cascata do “mal menor”, aqui vai uma historinha que veio a público esta semana. O caçador de nazistas Efraim Zuroff, do Centro Simon Wiesenthal, em Jerusalém, confirmou a morte de Alois Brunner, o mais procurado nazista. Ele, […]

Conversa sobre Primavera Árabe? Será que a divisão sonhática do Instituto Blinder & Blainder está impondo a pauta da coluna? Como falar em Primavera Árabe após tantos pesadelos? Sem dúvida, a Síria é hors concours, além de qualquer pesadelo, além da imaginação. No entanto, a Primavera Árabe é um processo, um rebento. É um broto que nem completou quatro anos. Já falei aqui das boas notícias da Tunísia, berço da Primavera Árabe, onde no domingo o partido islâmico Ennahda (o melhorzinho das irmandades muçulmanas) foi derrotado pela partido secular Nidaa Tounes nas eleições parlamentares. E é justamente ali na África do Norte que podemos ver o melhor e o pior produzido até agora pela Primavera Árabe (de novo, Síria é […]

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