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Como ditador, o marechal Sisi até que foi sóbrio. Apenas 89% dos eleitores egípcios aprovaram domingo as mudanças constitucionais, conferindo novos poderes ao ditador e abrindo o caminho para que ele seja o manda-chuva até 2030. Sisi assumiu o poder depois do golpe militar de 2013, acabando a farra caótica da Primavera Árabe e do poder pelo voto da Irmandade Muçulmana. No comando, ele empreende uma campanha de repressão mais draconiana do que nos tempos da ditadura do faraó Mubarak. Well, Sisi nem sempre é sóbrio. Na pantomina eleitoral do ano passado, de sua consagração presidencial, ele teve 97% dos votos. A indignação americana com ditadores não vale para aliados como Sisi. Já costumava ser assim A.T. (antes de Trump). […]

Neste começo de semana, estou obcecado com citações de ex-primeiros-ministros britânicos para falar da crise síria e redondezas. Segunda-feira foi citação do supremo Winston Churchill (“Se Hitler invadisse o inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”). Hoje é a vez de Harold Wilson, primeiro-ministro do segundo escalão, mas com sábia citação, embora pareça óbvia: “Uma semana é um longo tempo em política” e eu arremato: também em geopolítica. Há uma semana, o ditador egípcio Sisi foi recebido com tapete vermelho na Casa Branca de Trump, tratado como um exemplo de homem-forte. Agora, ele parece vulnerável e é claro que a minoria cristã do Egito ainda mais, após os medonhos atentados suicidas praticados em nome do […]

Na quarta-feira, a coluna destacou a carona do comediante saudita Hisham Fageeh no protesto das mulheres que querem levar um país retrógado para outra direção. Hoje é dia de abrir passasgem para Bassem Youssef, o satirista egípcio, velho conhecido desta coluna. Youssef, também conhecido como o Jon Stewart do Egito (espero que todos conheçam o satirista americano do Comedy Central) voltou com seu programa semanal na televisão depois de um hiato de quatro meses. Algumas coisinhas aconteceram durante este hiato, como um golpe militar que derrubou o presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana. Youssef nunca foi fraternal com Mursi e os “brothers”. Ele ridicularizava o poder anterior e no seu programa de volta na emissora privada CBC disparou contra o poder vigente. Youssef […]

Uma das mais importantes sequelas da Primavera Árabe é o estremecimento das relações entre os EUA e a Arábia Saudita. A sólida aliança movida por petróleo e interesses estratégicos remonta ao governo de Franklin Roosevelt na Segunda Guerra Mundial. Mas, agora há uma desafinação estratégica e uma decrescente dependência energética americana do Oriente Médio. A recente decisão saudita de esnobar um assento não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, pela qual o governo de Riad batalhava desde 1998, foi muito mais esnobada nos EUA. A Arábia Saudita está muito irritada e meios diplomáticos descrevem o octogenário rei Abdullah (já com 89 anos) como “furioso” com o presidente Barack Obama. Na lista da zanga saudita se destacam: 1) As jogadas […]

São dias de ufanismo militar no Egito, ao invés de triunfalismo islâmico. Desde o golpe de julho que alijou a Irmandade Muçulmana do poder, o nacionalismo dá as cartas. Os militares fizeram questão de uma grande festa no domingo para lembrar os 40 anos da guerra contra Israel (esperemos que tenha sido a última). A Guerra do Yom Kippur é vista no Egito como uma vitória gloriosa, embora tenha terminado num impasse, culminando no acordo de paz assinado por Anuar Sadat e Menachem Begin em 1979. Mas a festa de agora não foi nada pacífica e resultou em choques entre as forças de segurança e simpatizantes da Irmandade Muçulmana. Morreram dezenas de pessoas em um dia de feriado nacional. A Irmandade realizou seus […]

Está duro por estes dias saber onde está o lado bom da vida (o título em português do filme Silver Linings Playbook) na Primavera Árabe. Não é consolo, mas sabemos onde está o lado muito ruim. A Síria é pior do que o Egito. Os militares egípcios atiram sem piedade em militantes da Irmandade Muçulmana. Os militares sírio atiram. Eles agem simplesmente sem pudor, inclusive alvejando crianças. Temos agora novos relatos do uso de armas químicas em larga escala pela milícia de Bashar Assad (uma das várias no país) nos subúrbios de Damasco. O regime é o suspeito óbvio, mas uma ação tão escancarada soa incongruente. É possível seu uso pelos rebeldes jihadistas caso tenham acesso a material químico. Mas, por […]

Da turma do bem-que-eu-avisei, o conselho é escutar os avisos daqueles que realmente entendem de um recado. Se o assunto é Irmandade Muçulmana, meu hábito é seguir Eric Trager, um acadêmico americano que conhece o DNA do movimento islâmico e raramento perdeu o rumo para alertar sobre está flor que não se cheira na Primavera Árabe. E qual é o palpite de Trager agora? Para Trager, o comando militar que depôs a Irmandade Muçulmana em julho e realmente botou para quebrar desde a quarta-feira passada está determinado a fixar a agenda politica no Egito. E para o acadêmico americano, com as prisões dos dirigentes da Irmandade Muçulmana e o banho de sangue dos “brothers”, a organização esta desmoralizada e sendo […]

Há momento para tudo, até para concordar com declaração protocolar de diplomata. O ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, disse para a BBC que o jogo da Primavera Árabe é longo, vai levar “anos, talvez décadas” para desfechos mais conclusivos. Hague reconheceu o óbvio: a situação no Egito é “sombria”, especialmente com o confronto direto militares versus Irmandade Muçulmana, sem espaço para outros atores. Hague está no seu papel ao pontificar que é preciso “manter a calma, apoiando democracia, instituiçoes democráticas e promovendo diálogo”. No entanto, ninguém no Cairo está disposto neste momento a dialogar e o desafio é enquadrar a Irmandade Muçulmana, sem embarcar na fantasia de que seja possível “erradicar” o islamismo político. Eu coloquei o verbo entre […]

Com a névoa informativa, o fogo e o sangue nas ruas do Cairo e de outras cidades, é difícil ver com clareza para onde vai o Egito assolado por sucessivos golpes, uma aloprada dinâmica de alianças políticas (especialmente entre militares e grupos mais liberais que apoiaram a deposição de Mohamed Mursi no mês passado, furiosos com a perspectiva de um estado islamizado e também inoperante) e as incertezas de um processo revolucionário. Árbitros e feitores do poder desde os anos 50, os militares ocupam agora mais espaço à bala. A Primavera Árabe é uma meleca (o termo mais elegante é que não se faz omelete sem quebrar os ovos). Claro que teria sido ideal uma ordeira transição em que a Irmandade Muçulmana sofresse tanto desgaste no poder […]

Um pouquinho de lição de casa para os leitores neste final (para alguns) das férias de julho. Em fevereiro, eu apresentei os enfoques de dois professores americanos sobre os rumos da Primavera Árabe, publicados na revista Foreign Affairs, um sobre sua promessa e o outro sobre sua miragem. Época de carnaval. Portanto, os dois acadêmicos eram porta-estandartes de dois blocos distintos. Com mais este importante passo na avenida que foi o golpe militar no Egito, ambos estão de volta, atualizando seus argumentos: mais otimista (a promessa) é a professora da Columbia University, Sheri Berman, mais pessimista (a miragem) é Seth G. Jones, professor da Johns Hopkins University e diretor-associado da Rand Corporation. Desta vez vamos inverter e começar com a miragem. […]

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