Foram seis meses para corrigir desarranjos assombrosos na mera condução de um país. A nação americana retomou os trilhos na normalidade, teve uma sólida recuperação econômica e sucessos espetaculares no combate contra a pandemia. Adiante estão incertezas no boom econômico (como inflação) e temores sobre a gravidade de variantes do vírus. E como se esperava, imensas dificuldades para encontrar um denominador comum com a oposição republicana, refém de um ex-caudilho autoritário, delirante e mentiroso. Aliás, uma pilha de livros saindo sobre o execrável de Mar-a-Lago mostra que por qualquer balanço saímos ganhando de forma priceless desde 20 de janeiro passado. Trump fez questão de matraquear com vários autores. Chegou a dizer que teria sido muito difícil para ele perder uma parada […]

Coisa pequena no big picture, mas que maravilha ver um alegado arauto da lei e da ordem pagar por sua picaretagem. O império da realidade e o império da lei contra-atacam e Rudy Guliani, ex-prefeito de Nova York, teve sua licença de advogado suspensa por um tribunal de Nova York devido às suas mentiras sobre as eleições de 2020, como advogado de Trump (as maluquices sobre fraude). O tribunal tomou nota que a má conduta de Giuliani acirrou tensões que culminaram na insurreição de 6 de janeiro, quando supremacistas brancos e acólitos de Trump invadiram o Capitólio. Giuliani também está sendo investigado criminalmente pela promotoria de Manhattan (órgão que ele comandou antes de ser prefeito) por suas ligações com o […]

O poder de 35 senadores republicanos (no Senado de 100 cadeiras) para bloquear a formação de uma comissão bipartidária para investigar a insurreição de 6 de janeiro confirma o óbvio: o ex-partido republicano (hoje Partido de Trump) quer passar uma borracha na história e acobertar o crime em que, ironicamente, os próprios senadores foram vítimas da malta que invadiu o Capitólio A malta era composta de militantes de extrema direita e acólitos de Trump, apossados pela Grande Mentira, ou seja, somente a fraude tinha conduzido Joe Biden ao poder. Os bárbaros romperam os portões incitados pelo ex-presidente. O acobertamento do crime contra as instituições tem o objetivo a curto prazo de impedir um acerto de contas com a história e […]

Lá pelas tantas no seu discurso no Congresso na quarta-feira, Biden disse que os EUA “estão em competição com a China e outros países para ganhar o século 21”. Ele obviamente tem razão e cuidado com a automática projeção sobre o declínio americano. Faz tempo que não cito um dos gurus históricos desta coluna, Martin Wolf, do Financial Times. Esta semana, ele escreveu the que a “China está errada ao estimar que os EUA estão diante do inevitável declínio. As empresas americanos são globalmente dominantes e quase todas outras mais valiosas companhias não-americanas estão sediadas em países aliados”.      

O sonho é de alguma volta à normalidade na era D.C. (depois do corona), seja no nosso cotidiano, seja no cotidiano da geopolítica. Vamos ao segundo ponto: qualquer líder estrangeiro  tentado a antecipar esta volta à normalidade sob Biden provavelmente foi sacudido pelo ataque da horda trumpista ao Capitólio em 6 de janeiro. O assalto, afinal, desvalorizou o capital dos EUA como líder do mundo democrático. Para complicar as coisas, estão aí as “complicações” geopolíticas. Por exemplo: Biden quer recalibrar as relações com o regime saudita. No entanto, ele se mostra disposto a apenas apontar o dedo para o herdeiro do trono, o príncipe carniceiro MBS, por ter ordenado o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, mas não puni-lo. A Arábia […]

Existe dia para tudo, até para elogiar a família Cheney. O elogio é para Liz Cheney, filha do Darth Vader. Quem diria, ela é número 3 na bancada da minoria republicana na Câmara e está sendo alvo de uma caça às bruxas (no jargão de hoje, cancelament0) dentro do próprio partido. Liz Cheney é uma conservadora de verdade, tem princípios e cabeça institucional (bem melhor do que o pai Dick Cheney). Ela votou a favor do impeachment do incitad0r-em-chefe (foram apenas dez votos republicanos). A horda, porém, não conseguiu derrubar Liz Cheney da posição de comando no partido devido a articulações da liderança, que fez média e tenta segurar as pontas da heroína desta horda, uma tal de Marjorie Taylor […]

Ele está quase na reta final, questão de horas. Mas, podemos antecipar que o incitador-em-chefe já tem a medalha de pior presidente da história americana. Ele é um campeão, detentor de 50% da cota de impeachment na Câmara dos Deputados. Na categoria de ruindade, o incitador-em-chefe está na boa companhia de Andrew Johnson. Vice de Lincoln, Johnson assumiu o poder com assassinato do gigante. Na época, os democratas eram os republicanos, infestados de supremacistas brancos, como Johnson (Lincoln, claro, era republicano). Johnson passou boa parte do mandato, brigando com o Congresso controlado pelos republicanos sobre a Reconstrução pós-guerra civil. Em março de 1868, a Câmara aprovou 11 artigos de impeachment contra Johnson. Dois meses depois, ele escapou da condenação no […]

Existe uma urgência para defenestrar para sempre o incitador de insurreição Donald Trump da vida institucional de uma democracia (com o risco de que isto aumente a incitação de insurrectos nas catacumbas), mas existe também a urgência para que Joe Biden comece a governar sem distrações (alô, alô, pandemia). Não existem possibilidades de renúncia do incitador-em-chefe ou aceitação pelo pusilânime Mike Pence de invocação da vigésima-quinta emenda (incapacidade presidencial) antes de 20 de janeiro. Assim, o caminho é o impeachment. Parece razoável o plano de impeachment na Câmara esta semana (que significará o indiciamento de Trump) sem enviar a papelada para o Senado por alguns meses (até o governo Biden engrenar o básico e o essencial). Chance de condenação? Altamente […]