Biden tem pressa para finalizar um novo acordo nuclear com o Irã antes da posse em agosto do linha-duríssima Ebrahim Raisi como presidente no lugar do moderado Rouhani. Calma com o andor. Raisi já jogou um balde de água radiotiva no plano. Confidente do líder supremo, o aiatolá Khamenei, ele disse esta semana que qualquer novo acordo (Trump rasgou o acordo multilateral costurado por Obama) deve descartar pontos como o programa de mísseis balísticos do Irã e seu apoio a milícias e grupos terroristas no Oriente Médio, como o Hezbollah libanês. Tudo o que o aiatolá quer (as decisões finais são dele) é se livrar das sanções americanas mesmo ao preço de enquadramento do programa nuclear. E aqui está o […]

No Irã, tudo sempre pode piorar. Sob a tutela da teocracia xiita e do aparato de segurança, o regime nos últimos 25 anos vez ou outra permitiu o exercício eleitoral menos restritivo, não agora. Quando uma parcela significativa da população tem opções mais reformistas ou moderadas, ela vai para as urnas. Em caso contrário, vota com a apatia. O novo presidente iraniano ameaça ser a pessoa mais repressiva e tacanha a ocupar o cargo neste período. Inimigo do progresso, dos direitos individuais e do oxigênio cultural, Ebrahim Raisi se destacou como um jovem jurista que integrou a comissão que decretou a morte de milhares de dissidentes sem processo legal em 1988. Desde então, foi procurador-geral e cabeça do Poder Judiciário, […]

Aliados sabotam. Israel atacou a maior instalação de enriquecimento de urânio do Irã, em mais um lance da “guerra nas sombras” para atrasar o programa nuclear do regime dos aiatolás (que não esconde a meta de dar cabo da “entidade sionista”). Como de praxe, não existe confirmação oficial em Israel sobre mais este ataque. A sabotagem israelense sabota a incipiente retomada da diplomacia nuclear pelo governo Biden, em contraste ao propósito de Trump de desmantelar todo aparato gepolítico da era Obama. A árdua diplomacia se torna ainda mais espinhosa. O projeto Biden é criar termos mais rígidos para um acordo nuclear com o Irã, indo além do horizonte de 2030 (conforme o acordo multilateral de 2015). Falando em rígidos, a […]

Antes de tudo, crédito para o doutor Sergio Kaiser, leitor desde sempre desta coluna, por compartilhar a expressão “terraplanista sanitário” para casos de sabotagem, negacionismo, ignorância ou mera má fé em tempos de pandemia. Estou obcecado pela máscara por sua necessidade como proteção e como símbolo de posicionamento de seres humanos na pandemia. A gente sabe de alguns “líderes” que simplesmente sabotam a máscara, como é o caso de Bolsonaro (que ampliou o veto para o seu uso obrigatório) e Trump, cuja recusa é bandeira de luta na sua guerra cultural e campanha eleitoral. Estes dois são terraplanistas sanitários. Para estes tipos (Trump e Bolsonaro), que refletem uma frágil masculinidade, usar a máscara é símbolo de fraqueza. Infelizmente, esta gente […]

Há dez anos, os iranianos se anteciparam à “primavera” dos árabes e foram às ruas  protestar contra a reeleição fraudulenta de Mahmoud Ahmadinejad (holla, Evo Morales!). Foram esmagados. Desta vez, os iranianos chegam atrasados para a primavera global, que se alastra de Hong Kong a La Paz, com causas variadas, mas marcadas por ressentimento contra o status quo e alta de preços. Um país sinônimo de petróleo aumentou o preço dos combustíveis em até 300% em meio ao aprofundamento da crise econômica, que, entre outras coisas, sofre com as sanções americanas. A repressão já botou para quebrar, mas para os padrões locais ainda é suave. Com o regime do aiatolá Khamenei, a porretada contra o povo pode atingir nível de […]

O único livro que Trump talvez tenha lido na vida é o seu Art of the Deal. De qualquer forma,  aqui vai uma recomendação: ler The Art of War, de Sun Tzu. Lá está o conselho dado há 2.500 anos (atemporal) para que um líder poderoso “não pressione com muita dureza um adversário desesperado.” A campanha de Trump de “pressão máxima” de fato enfraqueceu o Irã e abalou sua economia. Em contrapartida, o regime do aiatolá Khamenei está mais perigoso,  revidando de forma que complica a tréplica, na dinâmica de altíssimo risco. E estamos neste momento em razão do ataque contra as instalações petrolíferas sauditas, atribuído pelos americanos ao Irã, mas negado pelo país. Por ora, é o anúncio de […]

(Texto atualizado domingo, 7/7, às 8.35, horário NY) O Irã confirmou neste domingo que que vai romper os termos do acordo nuclear de 2015, ultrapassando os limites fixados para o enriquecimento de urânio. Exceto falcões bigodudos (tipo o assessor de segurança nacional John Bolton) e radicais xiitas barbudos, poucos querem uma guerra entre EUA e Irã. Trump não tem uma estratégia, of course. Ele detonou o acordo nuclear costurado pelo “apaziguador” Obama, mas não sabe o que fazer agora. Avesso a guerras e mais propenso a paradas militares, Trump na verdade estimula o Irã a radicalizar por duas razões essenciais: rasgar o acordo nuclear e rasgar elogios para o garotão Kim Jong-un. O Irã quando crescer quer ser a nuclear […]

Texto atualizado às 8h30 (horário NY), de quinta-feira. A confirmação que os iranianos derrubaram um drone americano (a controvérsia é se ocorreu em espaço aéreo internacional ou não) representa uma nova escalada de tensões em um cenário tão volátil. *** Trump é um homem relutante para a guerra (afinal, fugiu do combate no Vietnã). Ele prefere travar batalhas contra imigrantes. A xenofobia faz parte do seu DNA eleitoral, mas aí está a escalada no golfo Pérsico, em parte criada pela decisão do presidente de cair fora do acordo nuclear e obviamente também pelo Irã, cujo regime teocrático não tem nada de santinho. Os EUA se preparam para enviar mais tropas para o Oriente Médio (mil soldados0, depois do anúncio iraniano […]

Um ano depois da retirada norte-americana do acordo nuclear com o Irã, a retórica belicosa de fato aumenta o risco de um conflito militar. O regime de Teerã reage à iniciativa de Trump (que foi uma de tantas bofetadas na política externa de Obama) renegando alguns dos termos do acordo assinado em 2015 com EUA, Russia, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha. O Irã anuncia que vai começar a armazenar urânio de baixo enriquecimento e da água pesada usada em reatores nucleares. Teerã também deu ultimato de 60 dias aos signatários do acordo (renegado até agora apenas pelos EUA) respeito a seus termos sobre venda do seu petróleo e finalização de transações bancárias. Em caso contrário, deverá retomar a produção de […]

Há 40 anos, teve lugar o colapso do regime do xá Reza Pahlevi; um regime horroroso derrubado por uma revolução popular, que rapidamente se revelou horrorosa. Regime teocrático não dá certo, seja na sua versão teocrática (Deus acima de tudo e todos), seja na sua versão secular (o partido acima de tudo e todos). Ilustrei o texto com esta foto mais melancólica do que horrorosa, destaque na capa da edição impressa do New York Times na segunda-feira. O regime dos aiatolás hoje consegue ser menos sufocador no dia a dia dos iranianos do que o regime teocrático saudita. É um consolo melancólico (e um iraniano que tem este consolo iria mandar este jornalista comer pistachio com casca). Este é o […]