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Não estou vendo miragem no deserto e meu título nem é ironia na sequência do medonho atentado terrorista no Sinai. Trata-se, de fato, de uma nova e perversa Primavera Árabe. De acordo com o Arab Barometer, que realiza pesquisas no mundo árabe, boa parte da  região está menos religiosa. Eleitores se mostram desiludidos com os partidos islamistas que apoiaram depois da Primavera Árabe original, em 2011. No Egito, em cinco anos, o apoio à imposição da Lei Sharia caiu de 84% para 34%. Reza-se menos em várias partes do Oriente Médio. A sociedade muda em meio a espasmos ensandecidos de grupos como Estado Islâmico. São mudanças na sociedade, mas também dirigentes agindo com seu autointeresse. Houve um tempo de cooptação […]

Vamos apelar novamente para a série Poderia Ser Pior, Presidente Dilma Rousseff. Imagine a sua popularidade despencar de 80% para 30% em 9 meses (isto já dá para imaginar no caso brasileiro) ou uma petição arrasar e conseguir em dois meses 15 milhões de assinaturas pedindo a sua renúncia, num país amargando problemas de carência de gêneros básicos, desabastecimento de gasolina e apagões. Ainda por cima, com um crescente cerco às liberdades politicas básicas. Um cenário de caos político e econômico. Este é o Egito do presidente Mohammed Morsi. O funcionário da Irmandade Muçulmana completará um ano de poder no domingo, com a previsão de protestos em massa e o potencial de dramáticas ramificações. Morsi tem sua base, também mobilizada em manifestações. A oposição […]

Continuando a frase do título desta coluna, eu tiro o chapéu para o primeiro-ministro turco. São impressionantes as conquistas nos últimos dias de Recep Tayyip Erdogan para se tornar o maior líder do seu país desde Kemal Ataturk, o pai da Turquia moderna, que surgiu das cinzas do Império Otomano, e também para consolidar sua liderança regional. Erdogan inclusive tem apelado ao chapéu de estilo cossaco que era usado por Ataturk. Foram dois lances: um deles pegou o mundo de surpresa e eu explico mais para a frente. O mais coreografado foi a trégua com os separatistas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, uma organização definida como terrorista na Turquia, Europa e EUA. Seu líder Abdullah Ocalan, que está em confinamento solitário há […]

O mundo árabe atravessa as turbulências de uma transição em que os velhos regimes caem, são ameaçados ou resistem. O regime islâmico em Teerã já é ancien (nasceu em 1979) e tenta resistir em meio à podridão interna, à fluidez do cenário regional e ao cerco internacional devido ao seu programa nuclear. Como diz um bom sacador das coisas lá de dentro, Karim Sadjadpour, como tantos regimes autoritários, a república islâmica tem os atributos de uma enorme máfia. Este é um regime criminoso, em termos comuns e políticos. Desde domingo, circulam os vídeos, imagens e relatos dos embates no Parlamento iraniano entre duas facções do regime: uma do presidente Mahmoud Ahmadinejad e a outra da família Larijani (a conversa é […]

Os republicanos de Mitt Romney esperam que o discurso de Barack Obama nesta terça-feira na abertura da assembleia-geral das Nações Unidas tenha sido o último no palco internacional do presidente democrata em busca da reeleição. Para os republicanos, Obama recorre a uma oratória ingênua, ambivalente e apaziguadora que já deu para o gasto. O presidente, no seu discurso nesta terça-feira condenou o vídeo com insultos a Maomé que deflagrou protestos no mundo islâmico, mas fazendo uma defesa do direito à livre expressão de forma cerebral e passional. O presidente lembrou ainda ser muito importante que pessoas no mundo islâmico se mobilizem contra a perseguição aos cristãos e a negação do Holocausto. Para os republicanos, é hora do presidente sair de cena, especialmente agora […]

Semana de abertura da assembleia-geral das Nações Unidas em Nova York. Alguma boa notícia sobre a chatice? Pelo menos uma: será a última vez que Mahmoud Ahmadinejad terá o púlpito para despejar sua mensagem obscurantista e antissemita, com aquele sorriso imbecil. O presidente iraniano está no final do seu segundo e último mandato. Desde sua primeira eleição em 2005, ele tem sido uma presença regular na cidade em setembro, ganhando um espaço descomunal na imprensa, dando a mesma entrevista odiosa ano depois de ano. Poderão vir outras figuras iranianas igualmente odiosas no seu lugar nos próximos anos, mas Ahmadinejad nunca mais pisará no meu pedaço. Mais complicado dizer se ele irá desaparecer do pedaço político iraniano. E esta abertura da […]

Já vimos este este filme. Agora é a vez da entrada em cena do xeque Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, o grupo xiita, extremista, terrorista, compactuado com o Irã, aliado do regime sírio e integrante o governo libanês. Nasrallah pediu uma semana de protestos contra o vídeo produzido nos EUA que insulta o profeta Maomé e que gerou manifestações antiocidentais em várias partes do mundo islâmico (e até fora dele). Nasrallah, que raramente aparece em público, disse que se trata de um insulto “sem precedentes”, pior que o romance Os Versos Satânicos, de Salman Rushdie, publicado em 1988, ou as caricaturas do profeta Maomé, publicadas na Dinamarca em 2005. Neste filme, eu prefiro a narrativa de Salman Rushdie, o muçulmano […]

Não é segredo que Israel acompanha com apreensão a volatilidade geopolítica no Oriente Médio. Por este motivo, é interessante acompanhar o raciocinio de Barry Rubin, judeu americano e acadêmico conservador influente, que circula nos meios militares e de inteligência em Israel. Na sua avaliação, as coisas estão melhores do que parecem para Israel na esteira da Primavera Árabe. Para Rubin, será um período de batalhas internas, instabilidade e conflitos contínuos que irão reduzir a capacidade de países árabes lutarem contra Israel. Existe a óbvia ressalva do aventureirismo para desviar as atenções. Mas mesmo que ocorra algo neste sentido -e aqui Rubin é específico sobre Egito e Síria pós-revolução- , os países árabes terão menos capacidade militar para atuar de forma efetiva contra Israel. Hostilidade […]

Não vamos fazer muito onda sobre os resultados (ainda preliminares) das eleições parlamentares na Líbia, mas eles são uma brisa acolhedora na Primavera Árabe. Antes de tudo, foi a vitória do processo (perdão por este jargão): a eleição aconteceu, foi bem menos violenta do que se temia e teve comparecimento acima das expectativas (até em bastiões da ex-ditadura Kadafi). Para os padrões de transição na região, é um bom desfecho. Foi a vitória do pragmatismo sobre a ideologia religiosa. A opção preferencial dos líbios (um país onde os partidos estavam banidos mesmo antes da ascensão do poder do ditador Kadafi em 1969) foi para para a Aliança das Forças Nacionais do ex-primeiro ministro interino Mahmoud Jibril e não para os grupos islamistas ou abertamente […]

Mohammed Morsi não é uma figura faraônica, mas o poder simbólico de sua vitória eleitoral é indiscutível. No Egito que já foi governado por faraós, reis e ditadores, ele é o primeiro presidente eleito democraticamente. Funcionário da Irmandade Muçulmana (o termo técnico é apparatchik), Morsi também é o primeiro presidente de um partido islamista que chega ao poder no mundo árabe. Morsi tem um mandato popular e legitimidade democrática, mas seus poderes são restritos. Os militares que capitaneiam a transição pós-ditadura Mubarak foram astutos para não melar sua vitória eleitoral. No entanto, eles manietaram o poder do futuro presidente. Têm poder de veto nas decisões do Executivo e assumiram poderes legislativos com a dissolução do Parlamento eleito democraticamente e que […]

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