É possível ter horror de gente como Trump e Netanyahu (e, por extensão, ditadores nababescos de paisecos do Golfo Pérsico), mas também admitir que eles foram responsáveis nesta terça-feira por um raro triunfo no Oriente Médio. Sim, os palestinos perderam (e em grande parte são responsáveis por seu alijamento diplomático), mas a região como um todo ganhou (ok, os iranianos também se ferraram, pois eles são o impulso para a aproximação de Israel com países árabes). O acordo de estabelecimento de relações diplomáticas de Israel com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein abre oportunidades de relacionamentos econômicos, tecnológicos e de quebra de barreiras culturais. E há os desdobramentos estratégicos que vão além de um amplo alinhamento contra o Irã, na […]

O jogo iraniano é mais difícil de decifrar na nova escalada de tensões no Oriente Médio engrenada pelos ataques a instalações petrolíferas sauditas, provavelmente com, no mínimo, envolvimento iraniano. Eu basicamente vejo uma provocação do regime de Teerã para renegociar o acordo nuclear, renegado pelos americanos. O Irã aposta que no abismo haverá negociação, ao confirmar como tem condições de tumultuar o mercado global de energia. O jogo de Trump é mais transparente: é a confusão na sua cabecinha laranja, resumida pelo Washington Post: o presidente está no dilema entre o imperativo político de confrontar o Irã, agradando os republicanos falcões e seus aliados israelenses e sauditas – e seus próprios instintos contra intervenção estrangeira e para fechar um acordo. […]

Começo de semana agitado com escalada dos preços de petróleo e acusações americanas, ecoadas com menos convicção pelos sauditas, de que o Irã foi responsável pelo ataque com drones e mísseis contra as instalações petrolíferas sauditas (negadas por Teerã). Após dias de gestos aparentemente conciliatórios (reforçados pela demissão do assessor de segurança nacional, John Bolton, o super-falcão), Trump ameaça e fala grosso com os iranianos. E da parte de Teerã seria um gesto altamente ousado um ataque como este atribuído por Washington. Ousado e leviano quando havia considerações de um encontro de Trump com o presidente Rouhani ao largo da assembleia-geral da ONU na semana que vem em Nova York e articulações do presidente francês Emmanuel Macron por um compromisso […]

Nos ares, os astros e os aviões se alinham. Em terra, é o horror, o horror. A Síria, já bastante destruída, ainda tem muito chão pela frente para grandes batalhas. Sempre foi um alarme falso que a poeira iria assentar, mesmo agora que o regime de Bashar Assad na base da porrada, armas químicas e genocídio virou o jogo na guerra civil. Em princípio, nada pode alterar o dantesco triunfo sírio. Mas, o tabuleiro lá sempre foi multimensional, com tantos atores engajados. Tudo prenuncia desdobramentos de profundo alcance geopolítico. Assad testou a determinação americana com seu novo uso de armas químicas e os patronos iranianos testaram Israel semanas atrás com o uso de um drone. Israel desfechou mais um dos […]

Multidimensional é um palavrão estrangeiro a alguém tão impulsivo, incoerente e ignorante como Donald Trump. Ele redobra a postura mais chulé do seu nacionalismo populista e isolacionista, ao anunciar a militarização atabalhoada da fronteira com o México (sempre obcecado com o tal do muro), enquanto abandona compromissos americanos no exterior, a destacar no Oriente Médio, um desafio multidimensional. De forma leviana, o governo Trump planeja cair fora do acordo nuclear com o Irã sem um esquema alternativo que impeça uma encrenca ainda maior (quem sabe sirva para acelerar o programa nuclear iraniano). Isto enquanto entrega a Síria de vez para o Irã e a Rússia, patronos de Bashar Assad. A instrução de Trump aos líderes militares americanos é para prepararem […]